terça-feira, 29 de abril de 2008

Personas


Entra, olha, observa cada canto do cômodo com uma concentração extraordinariamente relativa ao que lhe interessa. Alcança o objeto que procura de imediato. Senta, liga a máquina e se põe a dedilhar todas aquelas teclas freneticamente. Esboçava todas as suas "personas" de forma explicita sem se preocupar com nada. Toda a sua seriedade desaparecera por completo, aquele homem cheio de expressões pesadas, carregadas por problemas do dia a dia acabara de sumir como mágica. Suas "personas" pulavam e brincavam livremente pelos fios de fibra ótica interagindo com outras milhares de sombras!
Suas expressões agora eram de alegria, seu sorriso reluzia uma felicidade descomunal.
Ele havia acabado de receber a notí... [onomatopéia – trovão] de que seu... [onomatopéia – trovão]...
Acordou assustado. Pensava no sonho estranho que acabara de ter. Levantou-se da cama e andou de um lado para o outro no quarto incomodado. A chuva lá fora era torrencial [onomatopéia – trovão] e não hesitaria por nada. Aquele sonho lhe incomodava bastante, era a quarta vez que tivera este sonho na mesma semana. Sentado em sua cama e olhando pela janela acabara viajando em pensamentos que o levava além da imaginação. Colocou-se a andar em um cavalo marinho no fundo do mar. As plantas balançavam unidas por um laço invisível indo para a direita, para a esquerda. Os peixes assustados zanzavam de um lado para o outro e ele ali, debaixo da água. Decidiu descer do cavalo marinho quando deparou com uma Arraia. Subiu em seu dorso e ela começou a planar sobre os corais, sobre os peixes, sobre as plantas marinhas. Planou tanto que já estava acima das nuvens. Aquele vento gelado e úmido balançava seus cabelos, balançava o seu coração, era espetacular. Em algum momento inesperado ele avistou um pequeno lago cheio de peixes e desceu junto a Arraia, queria parar ali naquele lugar mais uma vez, a última vez. A beira do lago via o seu reflexo, camisa roxa com dizeres em branco, bermuda azul claro, allstar Azul, cabelos desarrumados por conta da Arraia e sua alta velocidade nos céus... Ali ficou por algumas horas. Pecou, pegou sua carteira e retirou um pedaço amarelo de plástico onde lia-se Serenata e o dobrou em um pequeno pedacinho de plástico. Olhou em volta e achou o casco de um caramujo africano vazio, perfeito. Colocou o pedaço de plástico dentro da casca do caramujo e com um punhado de terra molhada selou a casa do animal que havia saído para fazer compras. Coitado. Jogou-o no lago onde afundou rapidamente sumindo de vista para sempre! Subiu em sua Arraia e foi ao centro de Boston – M.A. para comer em seu restaurante favorito, o "Japan Food Dinner's". Comeu seus pratos favoritos e alguns outros exóticos. O que mais lhe agradou foi o "Gyozza" feito com carne de sua Arraia e Bolinhos primavera. Estava uma delícia. Ganhou um biscoitinho da sorte e assim que o quebrou encontrou a casca de um caramujo africano! Surpreso exclamou:
- Serenata!
Retirou o embrulho de bombom do caramujo e o guardou no interior de sua carteira, foi até a Cozinha do restaurante e pegou os restos de sua Arraia, embrulhou, subiu sobre o embrulho e partiu para casa. Sentou-se em sua cama e dormiu.
Ao amanhecer acordou assustado! Não estava em sua cama, e sim no sofá da sala.
Lembrou do filme que havia visto na noite passada e percebeu que tinha adormecido por ali. Sonhou que estava sonhando e que sonhava novamente! Será outro sonho?!
Levantou-se, escovou os dentes, colocou a roupa, penteou os cabelos e foi até a piscina selar a sua Arraia. Ele ia trabalhar em seu escritório no fundo do mar. (Ryan Zamperlini - 29/04/2008)

Morte Feliz




Ele estava lá sentado em um balanço na pracinha da cidade, céu azul, vento gostoso. Os banquinhos vizinhos estavam vazios como a sua solidão. Sentia um frio no estomago estranho, parecia ter comido pedras de gelo! Ela, o observava de longe com um interesse sobrenatural, mas tinha medo, muito medo, além de coragem e determinação.

Ele sabia que estava sendo observado, mas não sabia que era por ela, aquela que um dia derrubou o seu coração. Então ela tomou coragem e a curtos passos foi até ao banquinho vizinho na pracinha das magnólias sentar-se ao lado dele. Ele, como se não acreditasse no que via, ficou pálido, gelado, amargurado. Não era possível... Ele a olhou nos olhos durante um longo tempo e lembrou-se de como eles eram felizes, sorriu! Passando a mão em seus cabelos, pegando em suas doces mãos perfumas de rosas vermelhas ele sorriu profundamente.

Ela não sabia demonstrar sentimento algum, havia os perdido no caminho. Não pudera mais expressar coisa alguma alem do olhar desde o acidente. Ela levantou-se, ele também e os dois ficaram se encarando durante um tempo. Ela, como um passe de mágica desaparecera na sua frente, e novamente ele se pôs louco a procurar, apenas por alguns segundos, mas logo depois sentou-se em seu banquinho e balançando levemente com os pés para frente e para trás colocou-se em um ligeiro movimento vicioso. Sorriu...

O despertador tocou e ele acordou lembrando daquele pesadelo. Lembrou do quão real havia sido e se surpreendeu, pois havia tempo que não sonhava com ela. Escovou seus dentes, arrumou o seu cabelo desengonçado e correu para a floricultura para comprar rosas vermelhas. Andando pela cidade com aquele buquê de rosas passou pela praça das magnólias e sentou-se por uns dois minutos no banquinho do balanço que havia sonhado. Foi embora, tinha que fazer aquilo hoje ainda.

Chegando em seu destino, era quase dez horas da manhã e o sol ainda estava com preguiça dormindo em algumas nuvens macias. Ele entrou passando por dois grandes portões e olhando para aquelas estatuetas de bronze que sempre estiveram por ali. Avistou a árvore de longe e colocou-se em um movimento mais rápido que o normal, não gostava daquele lugar!

Levemente ele depositou o buquê de flores ao pé daquela arvore onde um dia chorou muito. A lápide dela já estava velha, sem cor e nem brilho assim como todo o sentimento que um dia ele teve por ela. Mas ele ainda a respeitava, apenas.

Estava tudo bem, ele sabia que ela estava em paz. O seu amor estava morto, mas feliz...

E ele sorriu, e a cada vez que voltava aquele lugar ele sorria. Lembranças de um amor bonito, separados por um acidente fatal...





- hoje em dia ele ainda vai ao cemitério deixar flores, mas vive um novo amor..



(Ryan zamperlini – 08/04/2008)

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